Quando se fala de índices, quaisquer que sejam, é necessário que se faça um levantamento profundo antes de divulgá-los, sob risco de que se cometa injustiças ou leviandades.
Temos acompanhado pela imprensa, a divulgação de índices de reprovação no exame teórico para habilitação, em algumas cidades do Estado do Paraná e gostaríamos de tecer alguns comentários a respeito.
Algumas cidades, que não mencionarei aqui para não cometer injustiças já que não concordo com a matéria, apresentaram índices de reprovação na prova teórica, que variaram de 63% a 52%.
Sou profissional da área de educação de trânsito há mais de 20 anos e proprietário de uma empresa que presta serviços nesse ramo e, portanto, me sinto incluído no contexto e tenho o direito de discorrer um pouco mais sobre os tais índices.
Em um país onde 12% da população é considerada analfabeta ( IBGE ) e mais 32% são considerados analfabetos funcionais, ou seja, lêem primariamente sem capacidade de interpretação de texto e/ou escrevem apenas o nome, chegamos então a um índice de 44% de incapazes, culturalmente falando.
Além disso, nosso País ocupa o segundo lugar entre os países de pior índice de alfabetização na América do Sul, ficando atrás apenas da Bolívia.
Estamos investindo atualmente – e começamos somente agora – , cerca de 3,9% de nosso PIB em educação, enquanto sabemos que países de primeiro mundo já investem há anos continuamente, mais de 10% de seu Produto Interno Bruto.
Portanto, para falarmos em índices de aprovação nisto ou naquilo, precisamos saber quem é o público pesquisado, social, cultural e financeiramente, já que em regra geral, uma coisa está ligada a outra, salvo exceções. Temos também que qualificar melhor as pesquisas estatísticas, inserindo campos específicos sobre a região onde vivem os pesquisados, se quisermos ter dados confiáveis. Por exemplo, em uma cidade cultural e financeiramente evoluída, teremos um índice superior ao de uma cidade que não tenha o mesmo desenvolvimento cultural e financeiro.
E, estamos todos nos esquecendo do mais importante dos detalhes:
Um candidato à primeira habilitação tem de comprovar apenas que sabe ler e escrever, independente de seu currículo escolar, pois assim determina a legislação.
É um contrassenso, portanto, exigir índices de aprovação em um sistema que não cobra qualquer grau de escolaridade de seus candidatos.
Temos uma heterogeneidade de alunos em uma mesma turma, desde curso superior completo até primário incompleto, ao contrário de uma escola pública ou privada, que recebe os alunos praticamente em pé de igualdade. E, mesmo assim, apresentam índices de aprovação baixíssimos, apesar de as diretrizes do MEC incentivarem a aprovação em massa, em detrimento da qualidade da educação, contribuindo em muito com o resultado apresentado acima, de analfabetos funcionais.
O descaso com a educação em nosso País já foi evidenciado inúmeras vezes em reportagens de grandes meios de comunicação, os professores são mal remunerados a ponto de perderem a motivação para ensinar, as escolas estão sucateadas, nossos alunos, por conseqüência da falta de cultura familiar, são indolentes ou rebeldes em sala de aula.
Corroborando com as alegações acima, cito ainda os resultados apresentados nos exames para a Ordem dos Advogados do Brasil, onde todos os candidatos, logicamente, possuem curso superior, estando todos competindo em pé de igualdade, e mesmo assim, os resultados são decepcionantes, a ponto de várias faculdades apresentarem índice zero de aprovação.
Entretanto, não podemos e nem queremos nos eximir de nossa responsabilidade. Entendo ser necessária uma reciclagem séria, organizada por pessoas realmente preocupadas com a melhora da qualidade da formação de nossos profissionais e tendo os órgãos de trânsito como parceiros, numa luta contínua para a melhoria do trânsito em geral, e não algozes, como infelizmente percebemos através de algumas ações que nos lembraram os tempos da ditadura, ao longo dos anos. Somos parceiros e não inimigos. Nossa luta é a mesma.
Finalizando, gostaria de deixar clara minha posição. Quando falarmos novamente em índices, que seja levado em consideração todos os fatores que contribuem para os resultados: A região sócio-econômica-cultural, o material humano e didático utilizado e principalmente, o grau de escolaridade de cada candidato.
Só assim seremos justos.
Luiz Carlos Segura
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